O estudante de mestrado em Ecologia da UFMG Augusto Milagres e Gomes recebeu uma digna recompensa para as cinco, seis horas de trabalho voluntário, madrugada adentro, que geralmente cumpre atrás de uma câmera, no meio do mato. Isso porque ele faturou o 2º lugar no “5º Prêmio de Fotografia – Ciência & Arte”, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), onde desbancou 419 concorrentes. O objeto do estudo está na foto.
Mas um morcego? Exatamente! Os brutos também beijam! Brutos e com fama de vampiros, coitados… Mas, para o pesquisador de 24 anos, que fotografa desde os 14, o morcego que flagrou, do gênero “Anoura”, é quase um “beija-flor da noite”.
Já a flor que recebe o carinho é uma “agave”, típica da América Central, e que estava no sítio da família de Gomes, próximo de Conselheiro Lafaiete. “É um polinizador importante”, defende. O pesquisador explica que há morcegos que ajudam na regeneração de florestas e nos controles biológicos, pois também comem insetos.
Gomes diz que levou três noites para fazer a imagem. “Eu sabia que os morcegos polinizavam estas plantas e preparei o equipamento durante o dia”. Ali, na calada noturna, sozinho e camuflado, Gomes se valeu de ciência e de paciência. “O fotógrafo de natureza é como um atirador de elite – mas, em vez de matar, ele eterniza o momento. Para mim, é como se fosse uma meditação”, compara.
O estudante pesquisa os morcegos desde a graduação, em 2014. Já o mestrado é sobre a biodiversidade dentro das cavernas – e nisso, os morcegos também estão. “Quero desmistificar os morcegos. A imagem foi feita para ilustrar a importância para a polinização”. O Brasil tem 178 espécies de morcegos conhecidas. Em MG são 83.
É ciência, mas também arte e zelo estético. “A pegada artística se dá para que o público leigo se sensibilize. O morcego congelado em voo em frente de uma flor maravilhosa emociona. É conhecimento científico traduzido de uma forma mais simples. Vendo o que há por traz da biodiversidade, têm-se mais interesse em preservar”. É, os morcegos lhe devem uma, caro pesquisador! “Eu que devo a eles!”, garante.
Além disso
“Ecos do Sertão” é o nome do livro para o qual o estudante Augusto Milagres e Gomes está fotografando, juntamente com o colega João Marcos Rosa e o pesquisador Geraldo Wilson Fernandes. No projeto eles vão mostrar a degradação do cerrado brasileiro. Para o trabalho, Gomes já percorreu cidades no estado de Goiás e nas regiões central, sul e norte de MG.
A previsão é de que a pesquisa seja finalizada em 2017. O livro deve ser publicado no ano seguinte e promete ser um dos mais completos dentro da bibliografia sobre este rico trecho da paisagem brasileira. Gomes diz que as fotos também serão artísticas e que a pesquisa servirá como uma forma de conscientização. O cerrado ocupa parte das regiões central, nordeste e sudeste brasileiras.
Fonte: Hoje em Dia