O mistério em volta dela já corria por toda a cidade. Uma pequena cidade, é fato. Mas ainda, sim, um grande mistério. Seu nome era Ana e era o máximo que os vizinhos sabiam sobre ela. Pouco falava, só o básico. Intimidade mesmo somente com as plantas na janela. Mas para além da sua quietude, o que mais chamava a atenção para Ana, era o fato de, das poucas vezes que aparecia, tinha sempre um véu cobrindo-lhe o rosto.
Todos comentavam, especulavam, teciam teorias. Seria um casamento frustrado? A perda do marido, uma fantasia persistente ou uma mania às vias da esquisitice? Talvez nunca descobririam. “Ela precisa se casar” “Foi abandonada pelo noivo no altar” “Sonha acordada com o dia do casamento”, palpitavam. Era , no mínimo, muito curioso. Qual o motivo daquele véu?
Ana era tão reservada, que foram escandalizados que os vizinhos a viram receber um homem desconhecido em casa. Boné vermelho e aparelhado por instrumentos, ele cumprimentou a anfitriã e entrou rapidamente. Imagine as especulações que se seguiram. Seria aquele a causa da reclusão e, quem sabe, o motivo primeiro do véu? O desconhecido permaneceu lá dentro. Os vizinhos, cada um empoleirado em sua varanda espiando as janelas de Ana, por fim, cansaram de esperar o desfecho da visita e partiram para dentro.
No dia seguinte, tudo estava quieto como sempre. Pouco a pouco, os curiosos novamente despertavam já com os olhos voltados para o portão de Ana. Pouco tempo depois, lá estava ela, no parapeito da janela regando as margaridas. Sem o véu. Todos ficaram espantados. Uma visita milagrosa! Finalmente, um dos vizinhos pensou que já era hora de acabarem as perguntas. Decidiu ir ver com Ana o que, afinal, acontecia ali.

– Só queria dizer que estamos muito felizes por ter conseguido um marido. Quando o homem perfeito chega, não há tristeza que não suma, não é mesmo? – Disse Seu João.

Ao que ela respondeu, irritada:

– Não preciso de um marido! O véu era para espantar os mosquitos. O único homem perfeito para mim é o Exterminador.