Baratas por todo lugar. O quarto de Augusto era um verdadeiro ninho delas. Todas as vezes que entrava ali, ele as via. Quase não se importavam mais com a presença do dono da casa. Quando Augusto entrava, podia até mesmo ouvir o tamborilar das patinhas sobre a madeira dos móveis. A ele, parecia que elas haviam se acostumado com sua presença, pois, nem mesmo se recolhiam ao vê-lo. Pareciam ocupadas demais para evitá-lo. O que, quando se tratava de outras pessoas, se verificava o contrário.
Os amigos, familiares e colegas de Augusto pareciam adivinhar ou mesmo vislumbrar a imagem de seu quarto toda vez que o viam. Ele notou que todos com quem convivia começaram de repente a manter certa distância. Na faculdade, os colegas desviavam, o almoço de família ficou mais solitário e os amigos desmarcavam ou nem mesmo aceitavam os convites para o happy hour de sexta à noite.
Embora tenha tentado diversas formas de expulsá-las, elas continuavam ali, percorrendo o quarto como como se fossem bem-vindas. Certo dia, observando as gavetas trasbordantes de naftalinas, resolveu ligar para a Insetan. O Exterminador, prontamente, atendeu ao chamado e apareceu na data agendada. Ao vê-lo na porta, Augusto já respirava aliviado. O terror daquela infestação estavam com os dias contados.
O Exterminador trabalhava muito bem, com calma, parecia ter nascido para dedetizar. Mas uma coisa Augusto não podia deixar de notar: até mesmo ele, o Exterminador, mantinha certa distância, não conseguia chegar muito perto do cliente sem ter que se afastar rapidamente. Naquele momento, todas as lembranças das pessoas que tinham feito o mesmo nas últimas semanas lhe ocorreram com tristeza. Passou muito tempo neste devaneio até que o chamado do Exterminador o trouxe para a realidade.
E como se adivinhasse o que estava pensando, disse:
– Ei, quer uma dica de amigo? Vê se tira todas aquelas naftalinas da gaveta. Não dá pra chegar perto de você sem ter dor de cabeça.
Augusto pensou um pouco. Dobrou a camisa até que pudesse cheirá-la. Acabou entendo tudo.