Cariocas devem ter ainda mais cuidados em função das características da cidade
Nunca subestime um rastro de cupim. Num trabalho quase sempre silencioso, estes insetos são capazes de comprometer móveis e estruturas inteiras de uma moradia. E, quando são descobertos, é possível que já estejam no local há mais de três anos. Por essa razão, a prevenção ainda é a arma mais poderosa contra essa praga.
As recomendações são ainda mais extremas para quem vive no Rio. A cidade oferece condições que esses animais adoram, como a mata que se mistura com os bairros e a umidade. O biólogo e proprietário da Rodantech Dedetizadora, Vinicius Rocha, conhece bem as consequências disso. Dentre as dez pragas que a empresa combate, 30% das demandas são por ataques de cupim.
— São de 40 a 70 chamados por mês — afirma ele. — E agora, com a chegada da primavera, aumenta a incidência, já que nos dias mais quentes começam as revoadas. Neste momento, eles estão na forma daquelas aleluias que ficam em volta da luz. Muita gente vê esses bichos e nem sabe que é cupim.
Rocha explica que há duas espécies mais recorrentes na cidade. A Cryptotermes brevis é aquela que ataca a madeira seca e mantém a sua colônia dentro das peças. Conforme os insetos se alimentam, geram fezes no formato de pequenos granulados, aquele “pó” comumente reconhecido como um indicativo de cupim.
Tal espécie, porém, tem um apetite menos voraz do que a segunda, a Coptotermes gestroi. Estes animais correspondem a 65% dos casos de infestação, de acordo com Rocha, e têm hábitos subterrâneos. Mas também podem formar outras estruturas de colônia nas edificações.
— Eles desenvolveram a habilidade de se instalar dentro da alvenaria, enquanto buscam pela celulose encontrada em peças fixas, como armários, portais e suportes de telhado — descreve Rocha. — E uma vez que entram num prédio de cem apartamentos, por exemplo, conseguem migrar muito rapidamente pelo meio de instalações elétricas ou paredes, formando túneis construídos com fezes, restos de alimentação e areia do solo.
A veterinária Francinea Souza acrescenta que frequentemente os cupins também fazem esse caminho em busca de alimento através de conduítes, o que causa ainda mais problemas aos imóveis afetados.
— Ao passarem por estes locais, os bichos produzem uma substância ácida que, somada a restos de fezes e saliva, causa grandes danos ao cabeamento elétrico, acrescentando o risco dos curtos-circuitos à lista de danos — descreve ela, que atua como gerente de pesquisa e desenvolvimento da empresa de inseticidas Dexter Latina. — Além disso, quando são altas, as infestações podem comprometer toda a estrutura ou o alicerce da construção, condenando o imóvel pelo consequente risco de desabamento.
INSETO DEMOCRÁTICO
O supervisor das equipes de controle de cupins da Insetizan, Geraldo Aragão, conta que existe uma máxima antiga entre as empresas do setor de que existem dois tipos de imóveis: os que já sofreram ataques do inseto e os que ainda vão sofrer.
— Não há um padrão de estruturas suscetíveis a ataques de cupins. Consideramos o inseto um dos mais democráticos que existem, pois atacam imóveis de variados tamanhos, das mais diversas classes sociais e regiões geográficas — diz ele, do alto de seus 46 anos de experiência no assunto.
Por isso a prevenção é tão importante. Como opina Vinicius Rocha, os brasileiros ainda não adotaram a cultura de se antecipar ao problema e, muitas vezes, acabam pagando um alto preço por isso.
— A maior parte da demanda ainda é por serviços curativos. Numa rápida comparação, um armário de cozinha que custou R$ 5 mil reais pode ser totalmente destruído pelos insetos, até que a infestação seja descoberta. Enquanto isso, um trabalho preventivo teria custado aproximadamente 15% do valor do móvel — compara Rocha.
A tradutora Paula Cabral de Menezes tomou um susto quando descobriu os danos que uma colônia de cupins havia causado em sua casa. Ela mora num imóvel construído há mais de cem anos, onde a caixa d’água fica apoiada em uma estrutura de madeira sob o teto da cozinha. E foi exatamente esta base o alvo dos insetos.
— Notei um vazamento de água e pedi a um vizinho para checar. Durante a inspeção, ele também descobriu como a madeira que sustentava a caixa estava tomada por cupins — relata ela. — O recipiente é de cimento e comporta 500 litros. Se o problema não fosse solucionado a tempo, a estrutura poderia desabar com consequências drásticas.
Ela não fazia um trabalho de prevenção contra a praga há mais de cinco anos e desembolsou R$ 2.200 por uma dedetização em toda a casa.
— Se essa caixa tivesse caído, poderia ter matado alguém. Temos que ficar sempre atentatos, inspecionando tudo. Principalmente as madeiras que ficam mais escondidas — comenta Paula.
PRODUTO INFLAMÁVEL
Apesar de os serviços de descupinização não serem baratos, tentar acabar com uma colônia por conta própria pode não ser uma boa ideia. Quem faz o alerta é o engenheiro florestal Norivaldo dos Anjos, professor de manejo integrado de insetos florestais da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais.
— As espécies têm modos de vida diferentes, e um leigo não sabe como agir em cada caso — justifica ele.
O professor destaca também que algumas empresas vendem produtos adulterados, os quais oferecem risco à vida das pessoas, durante a aplicação.
— Há compostos à base de querosene que são altamente inflamáveis. Caso entre em contato com uma faísca na rede elétrica, podem causar grandes incêndios — alerta ele, citando o caso da Igreja Nossa Senhora do Carmo, em Ouro Preto, que foi incendiada por causa deste produto. — Além dos riscos, como o querosene evapora rapidamente, a substância tem efeito imediato, mas não residual.
Fonte: http://oglobo.globo.com/rio/ataques-de-cupins-comprometem-ate-estrutura-dos-imoveis-20169774#ixzz4QBsGJxmJ