Laura mal conseguiu conter a empolgação quando viu a pista de corrida. Era a primeira vez que assistia a um jogo olímpico e, acompanhada do pai, a agitação era em dobro. Sacudindo-se na cadeirinha, espiava de minuto em minuto o galpão semiaberto por onde entrariam os atletas. Distraiu-se com uma família que dividia um balde enorme de pipoca na fileira ao lado e quando voltou o olhar para o portal, lá estavam eles, os corredores, brilhando sob o único raio de sol que incidia sobre o campo aberto. Era maravilhoso vê-los conversando, aquecendo-se, pedindo vivas à torcida, medindo as raias com os olhos, desejando a vitória acima de tudo.
Finalmente, tudo começou. Em suas posições, os corredores largaram enquanto Laura, hipnotizada, se deliciava com a cena. Estava tão absorta com a corrida que mal notou algo passar por baixo de suas pernas. Demorou até olhar os pés e ver uma longa calda cor de pêssego roçar seus calcanhares. Enquanto o camundongo saltava em sua direção, esqueceu-se da partida e dos corredores pondo-se ela mesma a correr, sem pensar em sentido e direção. Saltou para as fileiras da frente enquanto olhava de soslaio a cara confusa do pai.
Dali a pouco, viu-se invadir o solo laranja. Estava no meio da pista, correndo sem reparar a expressão zangada nos rostos dos seguranças. O pavor e a necessidade eram tantos que sequer ouvia a algazarra do público ao redor e o alvoroço da imprensa a segui-la. Sem olhar para trás, notou que alguns corredores se encontravam logo atrás, suados, o rosto firme a observá-la.
Prevendo o atropelo, disparou ainda mais veloz e, sem se dar conta, cruzou a linha de chegada. Ganhara a corrida. A plateia boquiabriu-se, explodindo em vivas. Quando finalmente parou, viu de longe o pai vibrar, os atletas dando socos indignados no ar, repórteres sufocando-a com espumas de microfone e, lá no fundo, o Exterminador entrar correndo na pista.