Todos tinham ido ver, alguns até de muito longe. A casa de Gustavo ficou pequena, transbordava gente pelas portas e janelas. Curiosas, as pessoas se aproximavam, com os olhos abertíssimos, da parede branca. Havia ali um bem valioso, talvez o mais precioso das posses de Gustavo. Um quadro centenário herdado do tio avô, pendurado na maior parede da casa.
 
Um retrato. Uma dama com seu cachorro ao colo, branco como neve, aninhado entre os braços da dona. Nada mais comum, exceto pelos olhos. Da mulher e do cãozinho. Eis o motivo pelo qual Gustavo, e todo o resto da cidade, tinha se interessado tanto pela tela nos últimos anos. O que se dizia é que os quatro olhinhos em tinta óleo estavam vivos. Literalmente. Eles se remexiam, reviravam, saíam do lugar em suas órbitas. Eles olhavam.
 
Era um espanto geral. Ninguém ali havia visto algo parecido nem mesmo em sonho. Pouco a pouco, o burburinho ia se tornando uma total histeria. Para alguns, o terror, uma história simplesmente surreal, parecia que não estavam ali, verdadeiramente acordados, vendo os olhos de um retrato de mexerem tão vivamente.

Mas tudo mudou quando soou a campainha. O Exterminador, levado por sua inesgotável curiosidade, apareceu com os olhos encantados, procurando a parede em que o quadro estava. Depois de vencer toda a multidão, paralisou diante da obra. Mas não foi de espanto como todos os outros.
Foi como se tivessem cancelado o Natal. E só mesmo o Exterminador para desvendar algo assim: um grupo de ratos havia roído o quadro bem no lugar dos olhos e colocavam ali os focinhos vez ou outra para assustar até os enxeridos.