Todos queriam uma solução fácil e rápida para acabar com o Aedes aegypti. Afinal de contas, eliminar água parada e entulhos de lixo estava dando cada vez mais trabalho e, pela falta de cuidado de um e de outro, se transformando em medidas pouco eficazes. E foi assim que uma pequena cidade de Minas caiu nas garras dos boatos da internet. Em pouco tempo, todos os moradores obedeciam a todas as “dicas infalíveis” que os “especialistas” online distribuíam a torto e a direito.
Ao começar o verão, todos já haviam feito suas armadilhas a base de garrafa pet, depois passaram a usar repelentes caseiros cuja receita incluía até mesmo grama e água benta, acenderam velas feitas de limão, partiram para o plantio de uma flor estranha que, segundo blogs de botânica, se alimentava do mosquito transmissor da dengue. Nada funcionou. Então resolveram, na mais perfeita desordem, organizar a maior ação de todas. Aquela que receberam via corrente nas caixas de e-mail, aquela que, de tão radical e urgente, acreditavam que o mosquito não teria mais escapatória. A insanidade consistia em reunir todos num grande salão de tocha acesa nas mãos, assim como faziam na idade média, e gritarem, o mais alto que pudessem, ofensas terríveis para o mosquito.
E assim foram, quase todos segurando celulares para não perder nenhum passo das instruções. Todos reunidos, a loucura começou, gritos e mais fritos inundaram o salão enquanto a fumaça das tochas encobria os rostos de fumaça cinza. Mas antes que uma verdadeira tragédia acontecesse, o alarme de incêndio pareceu soar e uma chuva que vinha do teto apagou as tochas e também a agitação presente.
“A fumaça ativou o alarme, só pode ser isso!” ouvia-se em uníssono. Até que uma voz ao fundo revelou:
“Não foi nenhum alarme. Na verdade, alguém com a cabeça no lugar ligou para a Insetan”, disse o Exterminador segurando uma enorme mangueira.