A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) iniciou ontem os testes de campo de um novo método para combater as epidemias de dengue no país. A técnica consiste na liberação na natureza de mosquitos Aedes aegypti contaminados com uma bactéria chamada Wolbachia, que dificulta a transmissão da doença pelos insetos, mas não afeta seres humanos.

Os testes fazem parte do projeto internacional Eliminate Dengue: Our Challenge (Eliminar a Dengue: Nosso Desafio), que já realizou experiências semelhantes na Austrália, no Vietnã e na Indonésia, com resultados promissores. Aqui, em cerca de dois anos, já será possível ter resultados visíveis de redução dos casos nas comunidades onde os mosquitos serão lançados.

Nesta primeira fase de testes, cerca de 10 mil mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia serão liberados semanalmente pelos pesquisadores no bairro de Tubiacanga, na Ilha do Governador, na zona Norte do Rio. O número de mosquitos é similar ao dos protocolos dos experimentos feitos na Austrália, onde os testes já foram concluídos em várias localidades. As liberações acontecerão durante três a quatro meses, de acordo com a avaliação dos cientistas sobre a capacidade dos mosquitos com a bactéria natural se estabelecerem no meio ambiente e se reproduzirem com os mosquitos que já existem no local, principais objetivos desta etapa inicial.

“Estamos diante de uma estratégia científica inovadora e segura, que poderá contribuir para o controle da dengue e para a melhoria da saúde da população”, avalia Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz e líder do projeto no Brasil.

Segundo ele, uma vez no ambiente, os insetos contaminados com a bactéria a transmitem naturalmente para as gerações seguintes de mosquitos, tendo efeito parcial sobre a transmissão de chikungunya e febre amarela. “Assim, o método se torna autossustentável: os mosquitos com Wolbachia predominam sem que precisemos soltar constantemente mais mosquitos com a bactéria”.

Cerca de 60% dos insetos no mundo, como o famoso pernilongo, têm presentes a Wolbachia, não existindo evidências de qualquer risco da bactéria para a saúde humana ou para o ambiente, garantem os pesquisadores. Ela pode ser transmitida apenas de mãe para filho, no processo de reprodução dos mosquitos, e não durante a picada do Aedes em um ser humano, por exemplo.

FONTE: http://www.otempo.com.br/capa/brasil/mosquitos-com-bact%C3%A9ria-imune-%C3%A0-dengue-s%C3%A3o-lan%C3%A7ados-ao-ar-1.921385