Havia dias que as crianças do bairro o olhavam apreensivos. O que era no mínimo estranho já que sempre foi a alegria das crianças com suas histórias de exterminador. Todos os dias elas o aguardam, meio que escondidos, meio que cheios de coragem, para vê-lo atravessar a rua. Quando ele passava, o burburinho começavam elas se empertigavam atrás dos postes, se esgueiravam por trás das moitas, escondiam-se nas varandas. O que estava acontecendo com aquelas crianças? Ou, o que teria acontecido consigo mesmo? Será que, com o passar do tempo, ele havia adquirido um aspecto assustador? Será que suas histórias estavam começando a assustar as pessoas?
Naquele dia, quando mais uma vez atravessava a rua partindo para mais uma aventura de dedetização, passou pelo banco, onde todos os dias, Antônio, um antigo carpinteiro da cidade se sentava para fumar seu cachimbo. Antônio era famoso por carregar sempre consigo um grande saco com pesadas alças de corda. Ele também havia notado a estranha movimentação das crianças. E bastou virar as costas para mais uma vez escutar os cochichos dos pequenos.
Para a surpresa do Exterminador e de Antônio, para quem as crianças olhavam curiosas, os garotos se aproximaram, trêmulos, até um deles alcançar os ouvidos do Exterminador para sussurrar: “É verdade que ele coloca as crianças dentro daquele saco?”. Ao que o Exterminador, em meio a risadas abafadas, pegou nas mãos o saco de Antônio, e quando o abriu, as crianças respiraram aliviadas. Havia ali inúmeros vidros de inseticidas para cupins que nunca funcionaram.
Todos dias, Antônio senta-se ali carregando um enorme saco para pedir conselhos ao Exterminador.