Uol, São Paulo

O biólogo Bill Keeton viajou para Jersey Hill, uma região mais sossegada e rural de Nova York, nos Estados Unidos, para soltar alguns pombos-correios. O pesquisador da Universidade de Cornell queria entender o porquê de os animais sempre se perderem naquela região, apelidada de Birdmuda, o Triângulo das Bermudas dos pássaros.
Mas, pela primeira vez, todos os pombos voltaram para suas gaiolas na casa do biólogo, a cem quilômetros de distância, em Ithaca. Keeton morreu sem entender o que aconteceu naquela tarde de 1969, deixando seus estudos da navegação das aves incompletos.
Mais de 40 anos depois, Jon Hagstrum, do Geological Survey dos Estados Unidos, desvendou o mistério da navegação dos pombos examinando os experimentos de Keeton. Depois de ler as anotações, que descreviam que as aves se orientam pelo Sol e pelo campo magnético da Terra, Hagstrum buscou um terceiro fator que poderia explicar as alterações no padrão de voo.
Ele percebeu que os pombos de Keeton, os únicos que voltaram para casa, não eram de Jersey Hill e passou a buscar pistas na região. Ele reconstruiu as condições atmosféricas da época e calculou a propagação do infrassom, ondas sonoras de baixa frequência que passam despercebidas pela audição humana, mas que são ouvidas pelas pombas, no vale.
Quando cruzou esses dados, Hagstrum encontrou a última peça do quebra-cabeça de 1969: além das habilidades de se guiar pelo Sol e usar o campo mágnetico da Terra como bússola, as aves podem “escutar” o caminho de casa, como se fossem orientações de um GPS.
O pesquisador explica, no estudo publicado na revista Experimental Biology, que uma sombra sônica, mesmo que em uma parte do trajeto (como deve ocorrer em Jersey Hill), podem desorientar os pombos, que alteram o trajeto atrás de novos comandos das ondas sonoras. De quebra, Hagstrum descobriu que não são só os humanos que se perdem enquanto o GPS recalcula a rota.