A teimosia de Carlos já tinha ido longe demais. Era o que todos pensavam. Por causa de um rato que andava percorrendo sua casa à noite, ele parecia ter enlouquecido. Tentou de várias formas capturá-lo, usou de vários métodos, acatou diversas fórmulas mágicas, acreditou em receitas que viu na internet, até correu atrás do rato com um cabo de vassoura. Fez de tudo.
Apesar do apelo dos amigos e da família para que caísse em si, afinal de contas, o telefone da dedetizadora ele mesmo sabia de cor, Carlos não arredava pé. Com a última armadilha, garantia, o rato seria pego. Carlos encheu a casa de ratoeiras. De vários tipos e tamanhos. Ele mal conseguia caminhar pela própria casa sem desarmar alguma ou mesmo ouvir o estalido delas. Quando chegou a hora de dormir, encostou, tranquilo, a cabeça no travesseiro, convencido de que amanheceria com um rato prisioneiro.
Pois bem, no dia seguinte, uma bela surpresa: todas as ratoeiras desarmadas, entretanto, sem nenhum roedor. Depois de um suspiro de desânimo, armou todas novamente. Não desistiria assim tão fácil. Mas o que se seguiu, manhã após manhã, era o mesmo, não conseguia pegar o invasor.
Até que certa vez, passada a noite em claro para tentar desvendar o mistério, Carlos viu uma cena curiosa. O rato, que parecia maior e mais forte, se revezava nas ratoeiras. Colocava o pescoço debaixo da barra, depois a levantava e abaixava com nítido esforço. Aquela armadilha virou a academia do espertinho.
Dado por vencido, Carlos esperou o amanhecer, pegou o telefone e foi logo discando: 3423-2500.