Verão. A época de chuva chega e os mosquitos estão à toda. A vizinhança inteira se mobiliza para acabar com a proliferação do Aedes aegypti. Areia colocada nos pratos de plantas secos, pneus sem água acumulada, lixo cuidadosamente vedado, telas nas janelas, calhas limpas, nenhum vestígio de água parada ou entulho servindo de criadouros. Parece que já haviam aprendido tudo, estava tudo em ordem, o que deixou o Exterminador um tanto surpreso com o chamado.
Chegou logo depois de desligar o telefone. O bairro, antes quieto, silencioso e calmo, estava em polvorosa. As pessoas andavam de um lado para o outro carregando flores, comida, objetos, parecia que um grande evento estava sendo preparado. Mulheres andavam apressadas arrastando os filhos, homens carregando utensílios de cozinha e bandejas cobertas também corriam se esforçando para cumprir algum prazo importante.
O mais impressionante, porém, era o espanto com que ele foi recebido, era como se estivesse adiantado demais para algum compromisso. Ao passar, percebia as pessoas cochichando, gesticulando, sussurrando uns para os outros. Ao chegar na praça do bairro, foi convidado, muito nervosamente pelo padeiro, a entrar no galpão principal.
Tudo escuro, nem um pio, embora desconfiasse de certa movimentação. Por que será que foi chamado? Que tipo de infestação tinha deixado a vizinhança tão inquieta? Por que ninguém explicava nada? Mas o Exterminador não precisou esperar muito. Quando as luzes se acenderam, todos os moradores o aplaudiam, seguravam faixas, cartazes e flores em sinal de agradecimento.
– Por ter nos ensinado a ficar livre dos mosquitos– disseram todos numa confusão de abraços.