Belo Horizonte terá na próxima terça-feira a abertura oficial da fase 3 de testes clínicos da vacina contra a dengue, produto que será testado em 14 centros de pesquisas biomédicas de uma lista de 13 cidades no Brasil.
Na capital mineira, o processo, coordenado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), já recrutou, desde 19 de outubro, 121 dos 1,2 mil voluntários previstos para participar da pesquisa. Destes, pelo menos 110 já receberam o imunizante desenvolvido pelo Instituto Butantan. O estudo prevê a participação de 17 mil pessoas em todo o país e busca encontrar soluções medicamentosas para frear a temida doença transmitida pelo Aedes aegypti.
Apesar de ser uma promessa de avanço para a saúde pública, a vacina não vence o desafio das outras enfermidades provocadas pelo mosquito: as febres chikungunya e zika, além da microcefalia, associada ao zika vírus. Também não há data prevista para o produto ser liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nem certeza da viabilidade econômica para incorporação ao sistema público de saúde.
Em Belo Horizonte, o Centro de Saúde do Bairro Jardim Montanhês, na Região Noroeste de BH, foi o escolhido para sediar a pesquisa e é onde está marcada a cerimônia de lançamento, na próxima terça, com presença do diretor do Butantan, Jorge Kalil. Na etapa de vacinação, que vai durar um ano e prevê aplicação de dose única, dois terços das pessoas vão receber a vacina, enquanto um terço restante receberá placebo. Após esse prazo, os voluntários serão acompanhados durante um período de cinco anos e a cada período de 12 meses dentro desse intervalo devem atender a um calendário de 10 visitas à unidade de saúde.
A pesquisa começou em 1999, nos Estados Unidos, e desde 2008 no Brasil. Porém, ainda não há prazo estimado para o produto ser liberado. Coordenador do estudo em BH, Adriano Luis Soares de Souza explica as próximas etapas: “O projeto tem duração de seis anos (vacinação e acompanhamento de pacientes). Mas o Butantan pode decidir, durante esse processo, submeter os dados à Anvisa, que vai avaliar se aprova o produto”. A vacina será analisada do ponto de vista de segurança e eficácia, a cargo da Anvisa, e em relação a custo-efetividade e impacto orçamentário com a produção, que serão avaliados pelo Ministério da Saúde, a quem cabe definir se o produto será incorporado ao calendário público de vacinação.
PRÉ-REQUISITOS Podem participar do estudo pessoas saudáveis, independentemente de terem tido dengue e na faixa dos 7 aos 59 anos, que residam dentro da área de abrangência do posto de saúde. Também são pré-requisito não ter doença psiquiátrica, não fazer consumo excessivo de álcool, nem uso de medicamento imunossupressor (que impactam a função do sistema imunológico), entre outros. No caso das mulheres, as voluntárias não podem estar nos primeiros 28 dias da gestação. Nos próximos meses, a aplicação da vacina deve será liberada também para crianças acima de 2 anos.
A notícia do início dos testes da vacina pode ser um bom sinal, diante do aumento crescente dos casos de dengue em Minas, que já registrou mais de 526 mil casos prováveis neste ano. O estado tem 80 municípios em situação de alerta ou de risco de surto de dengue, chikungunya e zika, maior número da Região Sudeste, perdendo apenas para cidades do Nordeste e Norte do país. Em todo o Brasil, são 855 municípios nessa situação – 37,4% do total de pesquisados. Os dados fazem parte do levantamento de índice rápido para Aedes aegypti (Liraa) de 2016, divulgado na semana passada pelo Ministério da Saúde.
 
Fonte: EM